Pastor Silas Malafaia: Compartilho com amor, a história de Thor, um jovem trans

Vi com certa apreensão e tristeza o pedido de boicote aos produtos da Natura feito pelo Pastor Silas Malafaia devido à divulgação de uma campanha de Dia dos Pais com Thammy Miranda ao lado da esposa e do filho, alegando ser isso”uma afronta aos valores cristãos” e acrescentando “que somos maioria”. Sempre respeitarei homens que se dedicam a missão de pregar o evangelho. É fácil ser conservador quando nem você e nem seu filho são as vítimas preferenciais do tal “conservadorismo”. Após uma palestra sobre corrupção jurídica em Uberlândia conheci um jovem garçom a quem chamarei de “Thor” (nome fictício). Quando ele me atendeu o seu rosto expressava uma profunda tristeza o que me fez lembrar do menino de beleza incomparável enforcado em um campo de concentração nazista, a quem Elie Wiesel chamou de o “anjo triste”. Também cito este caso no livro Espírito Santo, a força infalível do amor. Thor ficou surpreso quando lhe dirigi a palavra perguntando seu nome. Em seguida me revelou que não tinha um bom relacionamento com o pai, e que este havia recentemente cumprido uma pena de 15 anos de prisão. Pensei que o fato fosse o motivo de sua expressão tristonha. Tentando trazer alegria a Thor, emendei que “com certeza ele se dava muito bem com sua querida mãe”. Ele olhou em meus olhos e falou: “então Marques, meu pai cumpriu pena de prisão porque ele matou minha mãe”. Fiquei chocado e pedi desculpas por ter trazido a ele uma recordação tão dolorosa. Para minha surpresa ele disse que era a primeira vez que falava com alguém sobre o assunto sem se sentir angustiado. E prosseguiu: “Marques, eu não pude fazer nada para impedir, foi tudo muito rápido, e... eu era tão pequeno”. Na saída trocamos um abraço e nos despedimos. Passados uns dias Thor fez contato e começamos a conversar. Ao chamá-lo de filho ele demonstrou uma enorme alegria, porque disse que fazia tempo que não ouvia essa expressão, e então ele me chamou de “pai”. Depois de alguns dias ele disse que tinha algo para falar mas que não saberia qual seria minha reação. Ele revelou que era um homem trans. Thor tinha a mente e os desejos de um homem habitando em um corpo feminino. Respondi que isso não mudava absolutamente nada, e que Deus o amava da mesma forma. A questão da homoafetividade e da transexualidade é tratada com preconceito e, em alguns casos, até mesmo com ódio. No livro citado trago a história de Bobby e de Matthews Shepard, jovens homossexuais vítimas da homofobia nos EUA. O primeiro, praticou suicídio, o segundo foi amarrado a uma cerca e cruelmente espancado até a morte por dois jovens. O Presidente Barack Obama foi muito criticado quando assinou o Ato Matthew Shepard e Jones Byrde Jr de prevenção a crimes de ódio. Jones Byrd Jr foi cruelmente assassinado por três supremacistas brancos que o arrastaram em uma camioneta porque era negro. Policiais quando são acusados de crimes também passam por experiências traumáticas de preconceito e total abandono. Tornam-se verdadeiros “leprosos” perante a justiça e a sociedade, e mesmo quando são inocentes e vitimas de erros judiciários, cumprem longas “penas preventivamente” como no Caso Sete Centuriões (Sete Investigadores de Polícia de Londrina), Caso Rogério Luis Leite (PR), Caso Sargento Simeão (MG) e outros. Caso o Policial preso seja negro ou homossexual, as coisas tornam-se ainda piores. Como homens públicos e formadores de opinião nossas palavras importam e podem ser fontes de bençãos ou de terríveis tragédias. Nossas palavras eivadas de preconceitos podem gerar prisões, suicídios, agressões, separações de famílias e até mesmo homicídios. Não podemos alegar suposto “vitimismo” dos que se sentem atingidos pelo preconceito seja ele racial, ou decorrente de homofobia ou transfobia. A dimensão da dor somente pode ser sentida em sua real profundidade pela própria vítima. Assim, se algo gera tristeza e dor ao meu irmão, devo seguir o mandamento bíblico de “chorar com os que choram” e tratar o assunto com amor e respeito. Thammy tem todo o direito de ser reconhecido como pai, pouco importando a sua transexualidade. Thor e Tammy, assim como todos os demais seres humanos, também foram feitos à imagem e semelhança de Deus. Devemos amá-los como nossos irmãos. O que importa em Thammy é o amor que sente por seu filho e esposa. A homofobia, a transfobia e o racismo fazem incontáveis vítimas invisíveis. Muitos suicídios e homicídios tiveram como fontes primárias palavras de ódio e preconceito. Como disse no livro a Força Infalível do Amor, Deus só é o Todo Poderoso porque é o Amor, e Deus ama Thor e ama Thammy da mesma forma que ama o mais santo ser humano que já habitou neste planeta. Oro por eles e oro para que a empresa Natura seja cada vez mais próspera e ousada no enfrentamento ao ódio e preconceito, e na demonstração do verdadeiro amor. Aos homossexuais e transexuais, vitimas de homofobia e, aos que sofrem como vítimas de racismo, oro para que Deus os abençoe a cada dia para romper todas as barreiras e que com sabedoria possamos cumprir a missão de vencer o mal com o bem. Thammy tem razão ao dizer que “amor, respeito, afeto e coragem são coisas que precisamos para enfrentar a vida”, pois somente através do amor seremos reconhecidos como discípulos de Jesus. O amor não faz mal ao próximo, de sorte que o cumprimento da lei é o amor. Ao Thor e Thammy e a todas as demais vítimas de preconceito eu digo: Deus é amor. Que sejamos radicais e extremamente conservadores nos atos de amor e respeito pelo nosso próximo. O amor nunca falha. Usemos nossa “maioria” para abençoar e amar.

Marques – Claudio Marques Rolin e Silva, é protestante, filiado à Igreja Batista, autor do livro Espírito Santo a Força Infalível do Amor e do livro Operação Sepulcros Caiados I – Desvendando a “face oculta do Ministério Público Brasileiro. É Delegado de Polícia no Paraná, lotado no Núcleo de Proteção a Vulneráveis. Coordenador Geral de Ações da Comissão de Direitos Humanos Irmãos Naves. Idealizador do Plano Orientador Nacional de Segurança Pública– Planejamento Estratégico das Polícias Judiciárias.(www.cdhirmaosnaves.com).41-99846-2701– marquesrolinesilva@hotmail.com